Em seu livro Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar, o economista Prêmio Nobel, Daniel Kahneman, descreve os processos cognitivos envolvidos em todas as decisões humanas, independentemente de suas complexibilidades: de uma frugal refeição a investimentos de milhões num novo negócio.

A razão com a qual nos reconfortamos ao tomar decisões aparentemente sábias é muito mais uma falácia do que propriamente dito, algum tipo de controle e garantia de resultados favoráveis.

De qualquer forma, as duas formas de pensar do título, ou, Sistema 1 e Sistema 2, coexistem, pois, enquanto o primeiro, mais ativo, reage de maneira rápida, emocional, com base em poucas evidências e em termos isolados, o segundo, mais moroso, quando estimulado, delibera, raciocina, busca novas evidências e correlaciona variáveis.

Cada qual com seu viés, o primeiro precisa desesperadamente acreditar em histórias que façam sentido; o segundo se empenha em melhor elaborá-las. 

E, justamente elaborando dados econômicos conjunturais, ao que tudo indica, vivenciamos, nesse exato momento, uma nova janela de oportunidade para a retomada do crescimento econômico de maneira consistente, superando, enfim, a maior crise da história brasileira.

Para dimensionarmos o que isso significa, basta dizer que, segundo o Relatório Contas Nacionais do IBGE – Séries Históricas, no biênio 1930/1931, como consequência da quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, a economia brasileira encolheu, estimados, 5,3%, se recuperando em 1932, quando cresceu, estimados, 4,3%.

Oitenta e cinco anos depois, segundo ainda o IBGE, no biênio 2015/2016, como consequência da Nova Matriz Econômica de Dilma Rousseff, a economia brasileira encolheu 6,7%, iniciando uma tímida recuperação em 2017, quando cresceu apenas 1,1%.

E, independentemente de figuras como Donald Trump e Jair Bolsonaro, dois típicos representantes do Sistema 1, e consequentes, escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China, no cenário externo, e descalabros sociais e políticos, no cenário interno, a agenda econômica brasileira, por mérito dos quadros técnicos e empenho do poder legislativo, cria pontes cada vez mais sólidas para, finalmente, avançarmos nas reformas estruturais, responsabilidade fiscal, ganho de confiança e melhoria do ambiente de negócios para investimentos internos e externos.

Embora, em determinadas circunstância, cada sistema cognitivo tenha seu valor, fundamentalmente, criar pontes é um dos atributos do Sistema 2; muros, Sistema 1.

Somam-se a esse ambiente favorável, intervenções diretas do Ministério da Economia, a fim de impulsionar o consumo interno, como, por exemplo, a liberação de saques em dinheiro de contas do FGTS e PIS/Pasep, com potencial de injetar, estimados, R$42 bilhões até o final de 2020.

Tais variáveis políticas econômicas, entre outras não citadas, combinadas agora, são mais sólidas do que as fracas evidências anteriores, desde 2017, mais fruto da emoção e desejo de recuperação do que da racionalidade e ceticismo. Não é necessário dizer qual Sistema estava envolvido nisso, não é?

E se, durante esse longo período recessivo e de semiestagnação do qual, provavelmente, emergiremos, grande parte das empresas se ativeram a gerar ações intuitivas, combinando poucos elementos e visando resultados imediatos, nesse momento, talvez, seja necessário reunir com maior acurácia novas evidências, que as permitam interpretar melhor os mercados e consumidores que surgirão pós-crise econômica.

Em outras palavras, transitar entre histórias que façam sentido e garantam a sobrevivência imediata, para a elaboração de histórias que permitam crescer em novos mercados com novos consumidores.

Nessa linha, no próximo artigo, analisaremos dados de uma nova pesquisa com 900 consumidores que realizaram obras residenciais em 2018/2019, na qual, 73,4% dos entrevistados disseram não ter recebido qualquer tipo de contato do varejo ou da indústria, pós-finalização de compras dos materiais de construção, para avaliação de satisfação ou sugestões de novos produtos.

Será um artigo sobre pontes.

O sistema de compartilhamento de inteligência de mercado DataMkt Construção é cogerido por Leroy Merlin, Eucatex, Votorantim Cimentos e Deca, empresas empenhadas em entender os novos tempos e contribuir para o crescimento e profissionalização do segmento.