A foto que ilustra esse artigo, o de número 200, é da Casa da Boia, fundada em 1898 pelo imigrante sírio Rizkallah Jorge Tahan, e que, há 121 anos, localiza-se na Rua Florêncio de Abreu, na região central de São Paulo. Até onde se tem notícia, esse é o varejo mais antigo do setor em atividade.
Então, vamos voltar no tempo, mais precisamente para o início do século passado, resgatando os fundamentos que originaram o varejo e o atacado, tendo como referência o livro Comércio de Materiais de Construção, de Geraldo Hélio Guimarães Amorim, editado em 1997, além de dados secundários de fontes confiáveis.
Bem, mas qual era a configuração do setor na época dessa foto?
Existiam os comerciantes de médio porte, que vendiam de tudo um pouco, incluindo materiais de construção; os instaladores hidráulicos, que paralelamente, tinham pequenas indústrias e, com o tempo, pequenas lojas, que vendiam, além dos excedentes de sua produção, como calhas e condutores; boias, aplicação de chuveiro, registros, torneiras, ferragens etc., e, os atacadistas, que só atendiam uma empresa, daí o nome “atacadistas exclusivistas”
A maioria das lojas tinha a mesma configuração: balcão em formato de “U” com prateleiras atrás, que por sua vez separavam a área de vendas do escritório. Os produtos em promoção se espalhavam pelo chão, no espaço interno desse “U”, e, muitas vezes, os tubos de ferro galvanizados e demais materiais eram acomodados na frente dos balcões, obrigando os clientes a ficarem numa posição um tanto quanto incômoda para fazerem suas compras.
Foi nessa época que surgiu o termo balconista, fartamente utilizado até os dias de hoje.
Esse formato de comércio, com poucas variações e inovações, permaneceu até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, quando o nascimento e desenvolvimento de inúmeras indústrias de materiais de construção alavancou o crescimento do comércio, passando pelos atacadistas, que deixaram de ser exclusivos e aumentaram sua capilaridade, proporcionando o desenvolvimento de novas lojas de pequeno e médio porte em localidades mais distantes.
Ainda graças à proliferação das indústrias do setor, surgiram as lojas grandes, atendidas diretamente pelas indústrias, as avós daquilo que chamamos hoje de home center.
E, foi devido a evolução dessas lojas grandes, que uma delas, a Romano Center, autodenominada “O Fantástico Mundo da Construção”, apresentou o showroom de fábrica, em 1956, com ambientes montados com produtos vendidos na própria loja.
Era um período em que o meio de comunicação mais disruptivo da história até então, a televisão, explodia com suas novelas, artistas e casas – na verdade, cenários –, tornando todos os telespectadores visitas reparando nos lares dos anfitriões.
E, no ritmo da Bossa Nova, no início dos anos 60, surgiram duas feiras emblemáticas, em São Paulo: UD – Feira Nacional de Utilidades Domésticas e Salão do Automóvel, ambas realizadas pela Alcântara Machado, no Parque Ibirapuera. Dessa maneira, consolidavam-se grandes eventos de duas paixões dos consumidores da época (e, ainda de hoje, ao lado dos smartphones, claro!): seus lares e seus automóveis.
Houve, então, uma expansão de formatos de canais: lojas pequenas, médias, especializadas, lojas grandes, sendo que, nessas últimas, surgiu, de maneira mais contundente no Uemura Materiais de Construção, em 1968, a modalidade do autosserviço, já utilizada há décadas em outros segmentos, e que rapidamente se espalhou por várias bandeiras.
Assim, o comércio do setor seguiu evoluindo sem grandes rupturas, passando pela ditadura militar, milagre econômico, redemocratização, hiperinflação e Plano Real, em 1994, quando as regras do jogo do varejo, com a estabilização da moeda, começaram a ser jogadas de fato, nas quais as operações mais eficientes se impunham de maneira impiedosa, e, as menos eficientes, quebravam ou eram incorporadas por outros grupos, como, por exemplo, as outrora inovadoras Romano Center e Uemura.
Nesse momento, também se abriu o caminho para a chegada de grupos internacionais, tanto no varejo, como na indústria de materiais de construção, numa história que continua sendo escrita por todo o mercado: de uma loja com balcão em “U” no interior do Acre a uma torre de uma multinacional na região da Berrini.
Num mercado caracterizado pelo longo ciclo de compra dos consumidores, há espaço para todos se desenvolverem.
Ontem, hoje e sempre.